domingo, 26 de julho de 2020

A BÍBLIA PERMITE O DIVÓRCIO E O SEGUNDO CASAMENTO?

Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne"(Gn.2.24). Por isso, deixará o homem a seu pai e a sua mãe e unir-se-á a sua mulher. E serão os dois uma só carne, assim, já não serão dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem (Mc.10.7-9).

Este é um tema polemico e bastante debatido por muitos cristãos, todavia a Escritura deixa bem claro que o casamento deve ser monogâmico e vitalício. O mesmo princípio estabelecido por DEUS no começo da criação, foi corroborado por JESUS e posteriormente confirmado pelo apóstolo Paulo.
É da vontade de Deus que o homem deixe pai e mãe e se una à sua esposa. A ordem para "deixar" e  "unir-se" indica que o casamento liga os cônjuges numa aliança matrimonial.
"Unir-se-á", essa expressão significa "colar-se-á" a sua própria esposa para serem um. Deus planejou e determinou que o casamento fosse terminantemente indissolúvel (Mc.10.7-9). É no casamento que a verdadeira relação entre homem e mulher é estabelecida. Esta relação é algo tão maravilhoso que pode ser considerada como antítipo da relação entre Cristo e a igreja (Ef.5.22-25).
A forma verbal "tornando-se" enfatiza a certeza de que isso acontecerá. A certeza se baseia no desejo do casal, e no decreto divino, que estabelece o casamento vitalício.
Mas, é fato que, no mundo todo o número de divórcios tem ultrapassado o número de casamentos. Isto não é algo novo, esta realidade é antiga, sempre ouve separação entre os cônjuges, porque esta é uma obra de Satanás. Porém, o plano e propósito de DEUS para o casamento é que seja indissolúvel, isto é, que não haja separação ou divórcio. Este tema na Bíblia pode ser entendido sobre quatro aspectos: (1) O princípio estabelecido por DEUS no inicio da criação. (2) A carta de divórcio permitida por Moisés (Deut.24.1-4). (3) O conceito do casamento reiterado por Jesus ao responder uma pergunta sobre o divórcio (Mt.19.5; Mc.10.7). (4) O parecer de Paulo ao tratar sobre o casamento (I Co.7.1-40).

A QUESTÃO DO DIVÓRCIO E O SEGUNDO CASAMENTO À LUZ DA BÍBLIA.

1- O princípio estabelecido por DEUS no inicio da criação.

Portanto, deixará o homem o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne (Gn.2.24). Aqui fica subentendido que, o plano e propósito de DEUS para o casamento é que este seja monogâmico e consequentemente vitalício.
Houve um época no contexto histórico da nação de Israel, que a pratica do divórcio estava se tornando algo normal, e muitos estavam deixando suas esposas e contraindo novas alianças conjugais com mulheres estrangeiras. Diante deste fato, o profeta Malaquias ergue a voz em nome de DEUS para censurar e condenar tais atitudes. Na ocasião a nação cometeu dois tipos de infidelidade: Espiritual, quando deixou ao SENHOR e foi em busca de falsos deuses; e conjugal, quando foram infiéis as suas mulheres.
O SENHOR falou através do profeta: "Judá tem sido infiel. Uma coisa repugnante foi cometida em Israel e em Jerusalém; Judá desenrolou o santuário que o SENHOR ama; homens casaram-se com mulheres que adoravam deuses estrangeiros. Que o SENHOR lance fora das tendas de Jacó o homem que faz isso, seja ele quem for, mesmo que esteja trazendo ofertas ao SENHOR dos Exércitos. Há outra coisa que vocês fazem: Enchem de lágrimas o altar do SENHOR; choram e gemem porque Ele já não dá atenção às suas ofertas nem as aceita com prazer. E vocês ainda perguntam: Por quê? É porque o SENHOR entre você e a mulher da sua mocidade, pois você não cumpriu a sua promessa de fidelidade, embora ela fosse a sua companheira, a mulher do seu acordo matrimonial. Não foi o SENHOR que os fez um só? Em corpo e em espírito eles lhe pertencem. E porque um só? Porque Ele desejava uma descendência consagrada. Portanto, tenham cuidado: Ninguém seja infiel à mulher da sua mocidade. "Eu odeio o divórcio", diz o SENHOR, o Deus de Israel, "e também odeio homem que se cobre de violência como se cobre de roupas", diz o SENHOR dos Exércitos. Por isso, tenham bom senso; não sejam infiéis (Malaquias, 2.11-16). Portanto, está bem claro e explicito no texto sagrado, que DEUS não aceita o divórcio.

2- MOISÉS permitiu a carta de divórcio. Por quê?

Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora (Dt.24.1).

Esta expressão "encontrar nela algo que ele reprova, ou do marido que acha coisa indecente na esposa". Na época de Jesus, o significado exato dessa expressão havia se tornado motivo de controvérsia, sendo essa uma das razões pelas quais os fariseus apresentaram a questão a Jesus (Mt.19.3). Em resposta aos fariseus, Jesus declara que Moisés, por causa da dureza do vosso coração, vos permitiu repudiar vossa mulher; mas, ao princípio, não foi assim (Mt.19.8).

Esta expressão "dureza do vosso coração", implica em dizer que o coração dos homens ficavam endurecidos de tal forma, que eles ficavam insensíveis para com a mulher, inflexível, irreconciliáveis, obstinados, teimosos e não aceitavam de forma alguma viver com sua esposa. Então para livrar a mulher de ser vítima de violência ou até mesmo de morte, por parte do marido, Moisés permitiu que lhe desse carta de divórcio. Com esta carta de divórcio a mulher estaria livre para casar novamente.

3- O que JESUS falou acerca do divórcio?

Em seu grande discurso, conhecido como o sermão da montanha, Jesus falou sobre variados assuntos, e um dos seus temas em destaque foi acerca do casamento.

Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, que lhe dê carta de desquite. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério (Mt.5.31,32).
Versão A.R.C. João F. Almeida.

Foi dito: Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio. Mas eu lhe digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério (Mt.5.31,32).
Versão N.V.I. Leitura Perfeita - Thomas Nelson.

Qual a resposta de JESUS aos fariseus a esta questão?

O conceito do casamento é reiterado por Jesus, ao responder as perguntas dos fariseus acerca do divórcio. Diz o texto sagrado: E aconteceu que, concluindo Jesus esses discursos, saiu da Galiléia e dirigiu-se aos confins da judéia, além do Jordão. E seguiram-no muitas gente e curou-as ali.

PRIMEIRA PERGUNTA DOS FARISEUS:
Então, chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?

RESPOSTA DE JESUS:
Não tendes lido que, no princípio, o Criador os fez macho e fêmea e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne?
Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem.

SEGUNDA PERGUNTA DOS FARISEUS:
Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la?

RESPOSTA DE JESUS:
Moisés, por causa da dureza do vosso coração, vos permitiu repudiar vossa mulher; mas, ao princípio, não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.

OS DISCÍPULOS INTERPELAM O DIÁLOGO E QUESTIONAM:
Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.

JESUS FINALIZA O DIÁLOGO DIZENDO:
Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido.
Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do Reino dos céus. Quem pode receber isso, que o receba (Mt.19.1-12).

As estatísticas mundiais informam que, o número de divórcio vem superando o número de casamentos entre homem e mulher. O divórcio também era comum nos tempos de Jesus. Apesar disso, é uma violação do propósito original de Deus para o casamento.
O pano de fundo dessa questão era o debate entre duas escolas de pensamento teológico, ambas tendo Deuteronômio 24.1-4 como ponto de partida. O rabi Shammai ensinava que um homem podia divorciar-se da mulher se ela fosse infiel, pois interpretava que a expressão "coisa indecente" em Deuteronômio se referia à infidelidade conjugal. Já o rabi Hillel interpretava a expressão mais amplamente e entendia que um homem podia divorcia-se da mulher por qualquer motivo, mesmo por algo trivial, como um pão queimado. Em termos atuais, podemos dizer que um homem poderia pedir o divórcio se a mulher colocasse muito sal na comida.
Essa discussão teológica ganhou proporção por causa do casamento de Herodes Antipas, o tetrarca, que se divorciou da esposa Nabateia para casar com Herodias, que havia sido esposa de seu irmão Filipe. Esse casamento levou João Batista à morte (Mt.14.9-11).
Os fariseus tentaram criar uma armadilha para Jesus. Se ele dissesse que o divórcio era legal por qualquer motivo estaria contradizendo Moisés, que permitia somente por indecência (Dt.24.1). Se dissesse que era ilegal, ficaria mal visto pelo povo, pois o divórcio era prática comum entre eles.
Jesus percebeu a intenção dos fariseus e, com sabedoria, evitou uma discussão superficial, bem como as infames maquinações políticas. O Mestre foi diretamente à autoridade original. Em vez de argumentar sobre Deuteronômio, destacou outras duas passagens bíblicas: Gênesis 1.27 e 2.24, quando as cita em Mateus 19.5. Ele não afirma que a prescrição mosaica era nula ou vã. Em vez disso, prefere analisar a questão no contexto da intenção original de Deus.

* Este texto foi extraído da obra, Comentário Bíblico Africano (pg.1174-1175).

O PARECER DE PAULO.
O que ensinou Paulo sobre o casamento e o divórcio?

Paulo emprega a imagem do casamento para ensinar sobre o relacionamento do cristão com a lei (Rm.7.1-6). Paulo diz: "Não sabeis vós, irmãos (pois falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive?  Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do casamento. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for doutro marido; mas, morto o marido, livre está da lei e assim não será adúltera se for doutro marido (7.1-3).
Em I Corintios 7. 10,11,39 Paulo diz: Todavia, aos casados, mando, não eu, mas o Senhor, que a mulher se não aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher. A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo em que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido, fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor.
Numa outra situação conjugal, Paulo dar o seu parecer dizendo: "Aos outros, eu mesmo digo isto, não o Senhor: Se um irmão tem mulher descrente, e ela se dispõe a viver com ele, não se divorcie dela. E, se uma mulher tem marido descrente, e ele se dispõe a viver com ela, não se divorcie dele. Pois o marido descrente é santificado por meio da mulher, e a mulher descrente é santificada por meio do marido. Se assim não fosse, seus filhos seriam impuros, mas agora são santos. Todavia, se o descrente separar-se, que se separe. Em tais casos, o irmão ou a irmã não fica debaixo da servidão; Deus nos chamou  para vivermos em paz. Você mulher, como sabe se salvará seu marido? Ou você, marido, como sabe se salvará sua mulher"? (7.12-16 N.V.I).

Paulo fala da necessidade de o casal permanecer unido como marido e esposa, mas acrescenta: "Se o descrente quiser apartar-se, que se aparte. Em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz (7.15). O ponto principal é o significado da expressão "não fica sujeito à servidão". Paulo não explica em que consiste a servidão. A pessoa está livre do relacionamento, mas não deve se casar novamente, ou a liberdade inclui a dissolução dos laços matrimoniais e, portanto, a permissão para se casar novamente? Ao que tudo indica, o tema central do argumento de Paulo é a necessidade de os cristãos cultivarem o relacionamento conjugal mesmo quando se encontram casados com não-cristãos. Não obstante, parece haver espaço para, em casos especiais e sob a direção do Espírito Santo, a igreja aplicar essa liberdade não apenas ao relacionamento, mas também aos votos e, desse modo, permitir que o irmão ou irmã divorciados casem novamente. Em Mateus 18.15-17 apresenta os parâmetros a serem seguidos, nesses casos a igreja deve participar plenamente do processo.
Uma das questões mais importantes no aconselhamento para casais é a identificação de casos especiais aos quais a liberdade de I Corintios 7.15 é aplicável. É extremamente fácil abrir cada vez mais a porta para o divórcio e esquecer que Jesus o limitou à ocorrência de adultério e que Deus deseja que todos os casais mantenham seus votos matrimoniais para a vida toda. Não devemos, porém, ignorar o fato de que Deus nos tem chamado à paz. A paz resulta de os dois cônjuges cumprirem sua parte dos votos matrimoniais. Porém, há casos em que o marido tortura a esposa, quer por violência física, quer por negligência financeira, quer por ausência. Quando esse comportamento não muda mesmo depois de aconselhamentos repetidos e especialmente quando a vida da esposa corre perigo, ela tem o direito de deixar o marido. A esposa também pode ser o cônjuge em pecado quando, por exemplo, abandona o lar para morar longe do marido sem lhe prestar contas. Nas situações mencionadas anteriormente, depois de tentativas enérgicas de ajudar a parte errada a corrigir sua conduta, o pastor e a igreja devem tomar partido do cônjuge lesado e buscar maneiras de ajudá-lo a dar prosseguimento à sua vida. Ao reconhecer tais situações como casos especiais, a igreja pode dar à parte vitimada a opção de se separar, divorciar e casar novamente.

* Texto de Samuel Ngewa, extraído do Comentário Bíblico Africano (pg.1176).

Finalmente, devemos sempre ficar debaixo da vontade de Deus. "O que Deus ajuntou não separe o homem"(Mt.19.6).
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