quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

MARIA É MÃE DE DEUS?


Este tema tem causado polêmica no meio pentecostal, há pontos de vista diferentes em afirmar ou não, se Maria na verdade é mãe de Deus. A falta de compreensão de um ponto coeso da doutrina de Cristo (cristologia) postulado pelos Padres (Teólogos) de Calcedônia e outros, revela a ignorância bíblico-teológico e histórico de muitos irmãos.

O Credo da Calcedônia (Ásia menor, 451) descreve a encarnação da Segunda Pessoa da Trindade negando que um homem haja se tornado Deus ou que Deus haja se tornado homem. Não houve confusão ou absorção entre a natureza divina de Cristo e a sua natureza humana. As duas permanecem unidas, inseparáveis e distintas. Similarmente, a encarnação não é meramente o habitar divino de um humano nem uma conexão entre DUAS PESSOAS. Ao invés disso, o Credo assevera que há uma união real entre as naturezas divina e humana existentes em UMA VIDA PESSOAL: a vida de Jesus de Nazaré. Portanto, Maria é a Mãe de Deus porque só há uma ÚNICA PESSOA com DUAS NATUREZAS.

Quando afirmamos com os Pais da Igreja, como Cirilo de Alexandria e os pais presentes no Concílio de Calcedônia que Maria é a mãe de Deus, não estamos dizendo que ela é mãe da divindade de Jesus, mas que por Jesus ser Deus, Maria é a Mãe de Deus (Jesus, Deus–Homem).

Negar que Maria é a mãe de Deus é negar a Unipersonalidade do Verbo encarnado. É negar a Pessoa Teantrópica do Redentor. É afirmar que em Jesus tinha não apenas duas naturezas, mas DUAS PESSOAS. Portanto, quando o Concílio de Calcedônia subscreveu Maria como Mãe de Deus é que ela é a mãe de Jesus que é Deus. Cirilo afirma: “Ó tolos [...] o que ela deu à luz, exceto que é verdade que ela deu à luz o Emanuel segundo a carne? [...] Pois o abençoado profeta Isaías não está dizendo: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho, e o chamará pelo nome de Emanuel, que sendo interpretado é Deus conosco”? O texto de Cirilo em Calcedônia é plausível e defende não a mariolatria, ou Maria como Mãe da Divindade de Jesus ou ideias semelhantes, mas a cristologia postulada nos Concílios anteriores: a Única Pessoa com Duas naturezas. Dizer que não é Mãe de Deus (Jesus) é afirmar que ela é Mãe de uma Pessoa Humana, Jesus, que também é uma Pessoa Divina, o Cristo.

Afirmar, como alguns irmãos afirmaram por aqui, que Jesus teve pai e mãe humanos é pura heresia. A humanidade do redentor veio unicamente de Maria, e não de José, por obra do Espírito Santo (Mateus e Lucas falam sobre isso).

Quando alguns afirmam que Maria é a Mãe de Cristo (e não de Deus), na cristologia dos padres, subtende-se que Maria é mãe de uma pessoa humana. Em contrapartida, o ensino bíblico e da teologia ortodoxa dos Padres da Igreja (não confunda isso com o mero catolicismo romano – não tem nada ver –, pois as postulação de Calcedônia é a Fé Definida da Igreja de Cristo Jesus em todos os lugares: isso é catolicidade teológica) descreve e pontua que Maria é Mãe de Jesus, porque só temos UMA ÚNICA PESSOA com duas naturezas. Claro, a Divindade é do Verbo encarnado, e a Humanidade obra do Espírito Santo por meio de Maria. Portanto, isso não é MARIOLATRIA, mas, SIM, CRISTOLOGIA CALCEDÔNICA.

Negar que Jesus é Mãe de Deus é cair no erro da dupla personalidade de Nestório e de outros hereges repreendidos pelo postulado do Concílio de Calcedônia. Compreendendo o contexto do Concílio e as postulações de Cirilo de Alexandria e dos demais Padres, o santo padres afirmaram no Credo Calcedônio:

(...) Todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, perfeito quanto à humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, constando de alma racional e de corpo; consubstancial [hommoysios] ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; “em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado”, gerado segundo a divindade antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos];

Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, conseparáveis e indivisíveis;[1] a distinção da naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência [hypóstasis]; não dividido ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres nos transmitiu.

Desse modo, está certo que não perguntamos a uma mulher do quê ela é mãe, mas de quem. E este quem, no caso de Maria, é uma Pessoa divina. Ao perguntarmos a ela: “Maria, de quem sois mãe?”, ela poderá dizer: “Meu filho é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.” Ora, em Jesus não existem duas pessoas, mas uma só, que é divina - esse é o ponto de Cirilo de Alexandria e dos Teólogos de Calcedônia. Na Trindade há três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Foi a Pessoa do Filho que se encarnou. Maria, então, é necessariamente mãe de um homem, mas esse homem, que é seu filho, é uma Pessoa da Santíssima Trindade — “Unus ex Trinitate”, “um da Trindade”. Ele é Deus, Emanuel, Filho da Irmã Maria, que por sua vez é Mãe de Deus, Filho.

Quando, no ano de 431, no Concílio de Éfeso, a Igreja proclamou o dogma da maternidade divina de Maria, afirmando que precisamos chamá-la de Mãe de Deus, é porque havia os hereges nestorianos que queriam chamá-la de “Mãe de Cristo” (em grego, χριστοτόκος [Christotókos], “aquela que gerou Cristo”). Mas a Igreja imediatamente rejeitou essa ideia, esclarecendo que ela não é χριστοτόκος, mas θεοτόκος (theotókos), ela é Mãe de Deus, é aquela que gerou a Deus — manifestamente, em sua natureza humana, mas a Pessoa é divina.

Precisamos enfatizar isto: Jesus é uma Pessoa divina, e não um homem qualquer. Ele é Deus, e Maria é mãe daquele que é Deus.

Há evidências de que aquela criança não poderia ser o filho de um homem, mas de Deus: “O anjo respondeu: — O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.” (cf. Lucas 1.35).

Os pais da Igreja da Calcedônia fizeram um ótimo trabalho. Em questões cristológicas somos, talvez, como apenas anões em ombros de gigantes. Podemos ser capazes de enxergar ainda mais se sentarmos ali. Mas se descermos, me questiono se veremos algo além da lama do nestorianismo ou do eutiquianismo.

BIBLIOGRAFIA

Cyril of Alexandria. (1900). The Letter of Cyril to John of Antioch. In P. Schaff & H. Wace (Orgs.), H. R. Percival (Trad.), The Seven Ecumenical Councils (Vol. 14, p. 251). New York: Charles Scribner’s Sons.

Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã (SP: ASTE/Simpósio, 1998), p. 101.

CRÉDITO DESTE POST: Ivan Teixeira.

2 comentários:

  1. Graça e paz, Pastor Geraldo!✨🙏

    Gostaria de expressar minha gratidão pelo artigo"Maria é Mãe de Deus?" em seu blog. Seus comentários sobre o texto foram extremamente pertinentes e de grande relevância.

    Ao refletir sobre o tema, três pontos me marcaram profundamente:

    1.Maria é mãe de Jesus, que é Deus encarnado.✝️👶

    O título"Mãe de Deus" (Theotokos) é teologicamente correto, pois Jesus é divino, mas isso não eleva Maria acima de sua humanidade.🙌

    2.O foco deve estar em Cristo, não em Maria.✨👑

    O título reforça a divindade de Jesus, sem atribuir a Maria papéis de mediação ou co-redenção, que a Bíblia não apoia.❌🙏

    3.Maria é exemplo de fé, não objeto de adoração.🌟🙏

    Ela é um modelo de obediência e devoção, mas a adoração pertence exclusivamente a Jesus. 🙌✝️

    Um forte abraço! Nos laços do Calvário que nos unem. ❤️

    A serviço do Rei,
    ✝️Pr. João Nunes Machado



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    1. Amém.
      Obrigado pelo seu belo e edificante comentário.
      O seu comentário é relevante e me ensina algo mais.
      Sou grato a Deus pela sua vida e por ser seu companheiro de ministério.
      Forte abraço.
      Paz seja contigo.

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